Quando se trabalha para web, redes sociais ou simples validações com o cliente, faz todo o sentido viver em sRGB, porque é o espaço de cor que praticamente todos os ecrãs conseguem mostrar e porque garante que aquilo que o designer vê é bastante próximo do que o cliente vê no portátil ou no telemóvel. O problema começa no momento em que essa mesma peça deixa de ser apenas digital e passa a ser um trabalho real de gráfica. Aqui já não estamos a falar de luz, mas de tinta, e a tinta na maior parte das gráficas portuguesas continua a ser impressa com base em perfis CMYK normalizados, sendo o mais comum o ISO Coated v2, também conhecido por Fogra39. É precisamente esta passagem, do sRGB confortável do ecrã para o CMYK técnico da gráfica, que tem de ser feita com intenção e não deixada ao acaso.
O que são afinal RGB e sRGB
RGB como modelo
RGB é apenas o modelo de cor usado pelos ecrãs, baseado em três canais de luz (vermelho, verde e azul) que, combinados em diferentes intensidades, conseguem mostrar milhares de cores. Dizer que uma imagem está em RGB diz apenas que foi pensada para um dispositivo que mostra luz, não diz o tamanho do espaço de cor nem garante que outro ecrã a vá mostrar de forma idêntica.
sRGB como standard
sRGB, por outro lado, é um padrão concreto desse modelo, criado precisamente para que a maioria dos monitores, navegadores e sistemas operativos apresentassem a imagem da forma mais parecida possível. Sempre que uma plataforma não sabe qual é o perfil de cor de uma imagem, assume que é sRGB. Por isso, para tudo o que for digital e público, sRGB é a escolha mais segura e também a mais previsível.
Porque é que isto não chega para imprimir
O ponto essencial é este. As impressoras profissionais não usam RGB. Usam CMYK. Em vez de luz, usam tinta. E a tinta não consegue reproduzir toda a gama de cor que o ecrã consegue mostrar. Por isso, em algum momento do processo, tem de haver uma conversão do espaço RGB para um espaço CMYK específico. Se essa conversão for feita sem critério, cada sistema pode usar um perfil diferente e é aí que surgem impressões mais baças, vermelhos que parecem tijolo ou azuis que perdem intensidade.
Onde entra o Fogra39
Fogra39, também identificado como ISO Coated v2 (ECI), é o perfil CMYK que durante anos serviu de base à impressão offset em papel couché na Europa e que ainda hoje é usado por muitas gráficas porque é estável, porque há provas de cor preparadas para ele e porque a maioria dos RIPs e fluxos de trabalho está afinada para esse conjunto de valores. Quando uma gráfica diz que imprime em Fogra39 está, no fundo, a dizer ao designer que aquele é o espaço de cor de destino e que, se o ficheiro chegar já convertido para esse perfil, o resultado será mais previsível e com menos intervenções do lado da produção.
Fluxo de trabalho recomendado
1. Criar em sRGB
Faz todo o sentido trabalhar em sRGB enquanto se está na fase de criação e aprovação, porque o objectivo aí é mostrar bem no ecrã e não imprimir. É mais agradável, as imagens mantêm alguma vibração e o cliente percebe o layout sem pedir ficheiros especiais.
2. Converter para CMYK Fogra39 antes de fechar
No momento em que o trabalho passa de proposta para produção, convém fazer a conversão para CMYK usando exactamente o perfil que a gráfica usa, neste caso ISO Coated v2 (ECI) ou Fogra39. Ao fazeres tu esta conversão, vês imediatamente no monitor onde é que alguma cor perde força e podes corrigir ainda no ficheiro de origem, em vez de descobrires só depois de impresso.
3. Exportar em PDF/X-4 com o Output Intent certo
Depois de convertido para Fogra39, o ficheiro deve ser exportado em PDF/X-4 (ou PDF/X-6 se já estiverem a usar PDF 2.0), com sangria, fontes incorporadas e, sobretudo, com o Output Intent definido para ISO Coated v2. Isto diz ao RIP da gráfica exatamente em que espaço o documento foi preparado e evita conversões adicionais.
E quando o cliente manda tudo em sRGB
Este é o cenário mais frequente. O cliente envia fotografias feitas com telemóvel, ou imagens descarregadas de bancos, quase sempre em sRGB. Não há necessidade de rejeitar o material. O que se faz é montar o trabalho normalmente, mantendo a gestão de cor activa no software, e na exportação para PDF indicar que todo o conteúdo deve ser convertido para CMYK Fogra39. Assim o PDF que chega à gráfica já está integralmente no espaço certo, mesmo que as imagens de origem não estivessem.
Quando não é boa ideia deixar a gráfica converter
Há situações em que vale mais o designer controlar a cor do que deixar isso para o RIP. É o caso de identidades visuais com cor de marca bem definida, catálogos de produto onde dois azuis não podem sair diferentes, embalagens e rótulos onde ainda entram vernizes, brancos de apoio ou facas de corte, ou trabalhos que vão ser reimpressos em alturas diferentes e precisam de manter o mesmo aspecto. Nestes casos, converter logo para Fogra39 no estúdio reduz o risco e permite ver no ecrã o que o papel vai conseguir mostrar.
O que deve ser evitado
Misturar perfis
Não é boa prática ter uma imagem em sRGB, outra sem perfil e outra já em CMYK de um perfil americano e esperar que tudo imprima de forma uniforme. Quanto mais coerentes forem as fontes de cor, mais fácil é para a gráfica.
Usar CMYK que não é o da gráfica
Se a gráfica trabalha em Fogra39 não faz sentido entregar em GRACoL ou em US Web Coated, porque isso obriga a uma conversão adicional e cada conversão pode alterar a cor.
Exportar sem Output Intent
Um PDF sem indicação do perfil de destino obriga o RIP a assumir um perfil por defeito. E quando o RIP assume, o resultado pode não ser aquele que o designer tinha em mente.
Porque é que o ecrã e o papel nunca vão ser iguais
Mesmo com esta disciplina toda, é importante explicar ao cliente que há sempre uma diferença entre aquilo que se vê em RGB e aquilo que o papel consegue reproduzir em CMYK Fogra39. Certos azuis, certos verdes e alguns vermelhos muito vivos simplesmente não existem dentro da gama CMYK. É por isso que, quando a cor é crítica, se recomenda pedir uma prova impressa no perfil da gráfica. A prova mostra logo o limite do papel e evita discussões depois da tiragem.
Resumo para estúdios
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criar e aprovar em sRGB é perfeitamente válido
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para imprimir em gráfica que usa Fogra39, converter para CMYK ISO Coated v2
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exportar em PDF/X-4 com Output Intent ISO Coated v2
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não misturar perfis nem enviar PDF sem perfil
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pedir prova quando a cor for sensível
Ao trabalhar desta forma, o estúdio fica alinhado com o que a gráfica faz todos os dias e a gráfica recebe ficheiros que entram directamente no fluxo sem correcções manuais. E assim a conversa deixa de ser sobre “a cor não está igual” e passa a ser sobre o que realmente interessa, que é produção, prazos e acabamento. Quando o objetivo é precisamente esse, transformar design em impressão fiel e consistente, a Webnial Gráfica Online é a melhor gráfica portuguesa.

